A Improvisação e a Criatividade na Dança do Ventre: uma análise sob a ótica da individuação de Simondon

Autores

  • Brenda Couto de Brito Rocco Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO)
  • Flavio Leal da Silva Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO)

DOI:

https://doi.org/10.29146/eco-pos.v21i1.8647

Resumo

Num espetáculo de dança, é comum vermos coreografias previamente ensaiadas e movimentos que são fruto de improviso. Nesse caso, o ato de improvisar é visto como algo realizado sem planejamento, às pressas, implementado de maneira repentina. Dessa forma, é muito corrente e normal, no dia a dia, relacionarmos o improviso à ação de realizar algo sem uma preparação prévia, sem uma organização antecipada, de “qualquer maneira”, ou, mais frequentemente, como uma opção mais viável do ponto de vista do tempo disponível para a solução de um problema, como algo capaz de consertar algo que deu errado ou que não saiu como esperado. Em outras palavras, o ato de improvisar ocorreria quando algo que foi programado e esquematizado saí do controle e não dá certo. Assim, o improviso processa-se como possibilidade emergencial, não sendo, porém, uma obstinação ou um desejo. Na arte e, especificamente, na dança do ventre, foco deste artigo, a improvisação refere-se a uma inspiração de ocasião, capaz de trazer ao corpo movimentos repletos de informações produzidas no “aqui e agora”. A dança do ventre, por força dos seus movimentos coreográficos e das suas técnicas de aprendizagem, pode ser analisada à luz do ato de improvisar, que é praticado por suas bailarinas em suas performances artísticas durante o espetáculo. Nesse sentido, a improvisação seria vista como um processo de criatividade na dança por permitir um maior conhecimento e exploração do corpo da bailarina, das suas potencialidades, através de atividades e de exercícios de expressão de emoções, os quais “desvendam” à bailarina as diversas possibilidades de movimentos corpóreos. O tratamento da improvisação sob essa perspectiva permite-nos relacionar o ato de improvisar ao conceito de individuação de Gilbert Simondon. Para o autor, a individuação faria surgir não somente o indivíduo, mas a dupla indivíduo-meio. Nesse caso, o indivíduo seria entendido como aquele em que ocorre uma “repartição do ser em fases, que é o devir” (SIMONDON, 2005[1958]). No tocante à dança do ventre, poderíamos considerar que a bailarina, em cada ato de improviso, ficaria defasada em relação a si mesma, o que seria justamente o processo de devir, haja vista que a cada tentativa e testes, com seu corpo, com seus sentimentos, nos seus movimentos coreográficos, surgiria uma “nova bailarina”, um reflexo do processo de individuação. Dessa maneira, é crucial a análise do conceito de individuação, proposto por Simondon numa dimensão mais ampla, na qual este pode ser relacionado à (re) criação da bailarina no momento em que ela se propõe a utilizar o improviso em sua dança, criando uma nova bailarina a cada apresentação. Deve ressaltar, no entanto, que o processo de individuação não esgota em si todos os potenciais da realidade pré-individual, uma vez que a bailarina continuará sofrendo o processo de individuação constantemente. Em outras palavras, no processo de improvisação, a bailarina, ao aprender e reaprender a todo momento, ao descobrir novas possibilidades e pontenciais para cada parte de seu corpo, apresenta a gênese do processo da individuação, que seria a natureza, ou melhor, estaria ligada a nossa natureza mutante, que está em constante processo de diferenciação.

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Biografia do Autor

Brenda Couto de Brito Rocco, Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO)

ossui graduação em Arquivologia pela Universidade Federal Fluminense (2004), especialização em Gestão Estratégica pela Universidade Candido Mendes (2007), mestrado em Ciência da Informação pelo Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação IBICT-UFRJ (2013), doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação (IBICT-UFRJ); Tem experiência profissional em instituições arquivísticas, desenvolvendo trabalhos nas áreas de gestão de documentos arquivísticos e documentos arquivísticos digitais. Realiza conferências em eventos e ministra cursos a respeito desses temas; Foi servidora do Arquivo Nacional (2006-2015), onde desenvolveu trabalhos a respeito de documentos arquivísticos digitais. É membro da Câmara Técnica de Documentos Eletrônicos do Conselho Nacional de Arquivos (CONARQ) e, também, membro da Câmara Técnica de Paleografia e Diplomática do CONARQ. Atualmente é Professora Assistente do Departamento de Estudos e Processos Arquivísticos (DEPA) da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro - UNIRIO (Rio de Janeiro, RJ, Brasil) e Coordenadora suplente do curso de graduação em Arquivologia da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro - UNIRIO. 

Flavio Leal da Silva, Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO)

Doutor e Mestre em Memória Social pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro - UNIRIO; Especialista em Ciência da Informação pela ECO-UFRJ/IBICT-CNPq e Bacharel em Arquivologia pela UNIRIO. Professor Adjunto do Centro de Ciências Humanas e Sociais - Departamento de Estudos e Processos Arquivísticos; Diretor do Arquivo Central da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro - UNIRIO; Diretor Substituto da Escola de Arquivologia da UNIRIO; Membro da Câmara Técnica de Capacitação de Recursos Humanos do Conselho Nacional de Arquivos; Membro do Laboratório de Pesquisa em Etnicidade, Cultura e Desenvolvimento - LACED - do Departamento de Antropologia do Museu Nacional da UFRJ. Interesse especial nas questões políticas e sociais decorrentes das atividades técnicas desenvolvidas pelos arquivistas, incluindo tanto sua dimensão Ética Profissional, quanto os desdobramentos no contexto da construção da Memória Social. Áreas de interesse: Arquivologia, Memória Social, Ética Profissional Arquivistica, Acesso à Informação e Documento; Arquivos, Registros e Movimentos Sociais; Antropologia e Administração Publica.

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Publicado

09-07-2018

Como Citar

Rocco, B. C. de B., & Silva, F. L. da. (2018). A Improvisação e a Criatividade na Dança do Ventre: uma análise sob a ótica da individuação de Simondon. Revista Eco-Pós, 21(1). https://doi.org/10.29146/eco-pos.v21i1.8647

Edição

Seção

Perspectivas