Pornô subversivo
o Movimento de Arte Pornô durante a Abertura Democrática no Brasil (1980-1982)
DOI:
https://doi.org/10.29146/eco-ps.v28i2.28516Palavras-chave:
pornô, arte, performance, queer, obscenidade, zines, LGBTResumo
Este artigo contextualiza e analisa as estratégias mediáticas empregadas pelo Movimento de Arte Pornô (MAP) durante o processo de redemocratização do Brasil no início dos anos 1980 — um período marcado pela transição política, pelo conservadorismo moral e pela crescente circulação da pornografia hardcore na América Latina. Ao revisitar uma parte do repertório literário, visual e performático do MAP, o artigo explora como o coletivo desenvolveu uma estética “artivista” que desafiava representações normativas da sexualidade e interrogava a divisão entre o público e o privado que estruturava tanto a expressão artística quanto a política sob os legados autoritários. Embora estudos recentes tenham enfatizado a ascensão da política identitária e o florescimento da imprensa alternativa e da literatura marginal nesse período, tais abordagens frequentemente permanecem limitadas por categorias estáveis de identidade e/ou orientação sexual. Este artigo argumenta que as intervenções do MAP — especialmente seus manifestos, zines, performances centradas no corpo e provocações poéticas com palavrões — cultivaram uma política sexual radical que ia além da afirmação de identidade, abraçando o prazer subversivo da dissidência sexual de maneira que hoje ressoa com o conceito teórico de “queer”. Ao ressignificar a obscenidade e a indecência por meio de mídias menores e formatos efêmeros, o MAP transformou o erótico em uma força sensorial pública, capaz de desestabilizar tanto parâmetros estéticos quanto o estigma social. Assim, o artigo insere o MAP em debates transnacionais mais amplos sobre pornografia e demonstra como o uso experimental de símbolos subversivos por parte do coletivo complicou noções de politização e compromisso revolucionário. Em última instância, a produção cultural do MAP é lida como um arquivo gerador de uma política sexual em transição, revelando o potencial das práticas artísticas para desestabilizar e reinventar a vida pública por meio de formas de expressão corporificadas e indisciplinadas
Downloads
Referências
Butler, Judith. Excitable Speech: A Politics of the Performative. London: Routledge, 1997.
Cowan, Benjamin. Securing Sex: Morality and Repression in the Making of Cold War Brazil. The University of North Carolina Press, 2016.
Macrae, Edward. A construção da igualdade-política e identidade homossexual no Brasil da “abertura.” Campinas: Editora da Unicamp, 1990.
Figuereido, João Batista. (1982) “Discurso à nação brasileira por ocasião do 3º aniversário do governo.” Web, 1982. http://www.biblioteca.presidencia.gov.br/presidencia/ex-presidentes/jb-figueiredo/discursos/1982/21.pdf/view
Green, James. Além do carnaval : a homossexualidade masculina no Brasil do século XX. São Paulo: Editora UNESP, 1999.
Guimarães, Victor. “O êxtase do povo: P.M. (Cuba, 1961) e Arrasta a bandeira colorida (Brasil, 1970).” Doc on-line (2019): 61–86.
Kac, Eduardo, and Cairo Assis Trindade. Antolorgia: arte porno. CODECRI, 1984.
Kac, Eduardo. Porneia: Movimento de Arte Porno= Porn Art Movement, 1980-1982. Nightboat Books, 2022.
___________. “O Movimento de Arte Pornô: A Aventura de Uma Vanguarda Nos Anos 80.” Ars (São Paulo, Brazil) 11.22 (2013): 31–51.
Kucinski, Bernardo. Jornalistas e revolucionários: nos tempos da imprensa alternativa. São Paulo: Edusp, 2003.
López, Miguel. “Disrupting normality : disobedient bodies and dissident sexualities against the politics of extermination” In N Munder, Heike et al. Resistance Performed: An Anthology on Aesthetic Strategies under Repressive Regimes in Latin America. Migros Museum für Gegenwartskunst, 2015.
MacKinnon, Catherine. “Sexuality, Pornography, and Method: ‘Pleasure under Patriarchy.’” Ethics 99.2 (1989): 314–346
______________. “OnlyFans Is Not a Safe Platform for ‘Sex Work.’ It’s a Pimp.” New York Times, 6 Sept. 2021.
______________. “Pornography as Trafficking” Michigan Journal of International Law, 26 (2005): 993–1223
Mattoso, Glauco. O que é poesia marginal? São Paulo: Editora Brasiliense. 1981.
Nogueira, Fer and Pêdra Costa. “From the Pornochanchada to the Post-Porn-Terrorism in Brazil.” Terremoto Magazine - Contemporary Art in the Americas, no. 12, 18 June 2018, pp. 26–31.
Nogueira, Fer. “O Movimento de Arte Pornô no Brasil: ‘Genealogias ficcionais’ das pornografias do Sul.” In López, Miguel A. (Org.). Alianças de corpos vulneráveis. Feminismos, ativismo bicha e cultura visual. SESC Videobrasil, 2016. 17-37.
Pignatari, Décio. Contracomunicação. São Paulo: Editôra Perspectiva, 1971.
Preciado, Paul. Pornotopia: An Essay on Playboy’s Architecture and Biopolitics. United States: Princeton University Press, 2014.
Quinalha, Renan. Contra a moral e os bons costumes : a ditadura e a repressão à comunidade LGBT. São Paulo: Companhia das Letras, 2021.
Reid, Marc Olivier. “Esta fiesta se acabó: Vida nocturna, orden y desorden social en P.M. y Soy Cuba.” Hispanic Research Journal 18.1 (2017): 30–44
Rolnik, Suely. Esferas da insurreição: Notas para uma vida não cafetinada. 1st ed. São Paulo: n-1 edições, 2019.
Sabsay, Leticia. The Political Imaginary of Sexual Freedom: Subjectivity and Power in the New Sexual Democratic Turn. Palgrave Macmillan, 2016.
Sierra Madero, Abel. El cuerpo nunca olvida: trabajo forzado, hombre nuevo y memoria en Cuba (1959-1980). Rialta Ediciones, 2022.
Tinoco, Bianca. “Eduardo Kac e a escrita do corpo no espaço” Revista Concinnitas, 17, (2010): 20-127.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2025 Alejandro Munera

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivatives 4.0 International License.
Aos autores pertence o direito exclusivo de utilização ou reprodução.
Você tem o direito de:
- Compartilhar — copie e redistribua o material em qualquer meio ou formato.
- Adaptar — remixar, transformar e construir sobre o material para qualquer filme, mesmo comercial.
O licenciante não pode revogar esses direitos, desde que você respeite os termos da licença.
De acordo com os seguintes termos:
- Atribuição — Você deve dar o devido crédito, fornecer um link para a licença e indicar se essas alterações foram feitas. Você pode fazê-lo de qualquer maneira razoável, mas não de maneira que sugira que o licenciante endosse ou aprove seu uso.
- Sem restrições adicionais — Você não pode aplicar termos legais ou medidas de natureza tecnológica que restrinjam legalmente outros de fazer algo que a licença permite.
Aviso: A licença pode não fornecer todas as permissões necessárias para o uso pretendido. Por exemplo, outros direitos, como publicidade, privacidade ou direitos morais, podem limitar a maneira como você usa o material.








